Resumindo, “Yeshua” propõe um padrão de relacionamento problemático com o Filho de Deus, nos levando a fazer pouco de como a Bíblia o trata em prol de um tratamento indecoroso e indevido. Realmente chega a ser ATREVIDO!
Tem gente que não gosta de worship. Tem gente que não gosta de música repetitiva. Tem gente que não gosta de chamar Deus de lindo. Pois bem, na análise de hoje temos tudo isso. E mais um pouco.
Hoje vamos analisar a música “Yeshua”, que originalmente foi lançada pelo grupo católico Colo de Deus em 2016, mas que ficou mais conhecida recentemente pela gravação do Casa Worship.
Com pouco mais de dois anos no ar, o vídeo clipe oficial de “Yeshua” já ultrapassou 52 milhões de visualizações no Youtube. Só no Spotify, são mais de 23 milhões de transmissões. Ou seja, tem muita gente ouvindo essa música e, sem dúvida, muita igreja cantando. Infelizmente, isso não é uma boa constatação, uma vez que a letra é um tanto problemática.
Vamos à análise.
A música é composta basicamente por duas estrofes de quatro linhas, que se repetem bastante. Na gravação oficial há também a inclusão do momento de canto espontâneo, que vou deixar de fora, uma vez que por se tratar de um improviso, imagino que cada igreja o substituiria com seu próprio momento de canto espontâneo.
Te chamam de Deus e de Senhor
Te chamam de Rei e Salvador
Mas eu me atrevo a te chamar
De meu amor
Na primeira estrofe, a música nos coloca à parte dos demais. Enquanto outros se referem a Jesus como Deus, Senhor, Rei e Salvador, eu me atrevo a chamá-lo de “meu amor”.
Vamos parar para pensar nisso por um minuto. Não sei se a intenção do autor era colocar “meu amor” acima de todos os outros títulos, mas a construção da frase certamente dá a entender que chamá-lo assim é algo além e melhor do que apenas Deus, Senhor, Rei e Salvador.
Primeiro temos que compreender: qual é a importância de se enxergar Jesus como Deus, Senhor, Rei e Salvador?
Quando lemos os evangelhos, nos deparamos com uma série de confrontos entre Jesus e os mestres da lei que, em várias instâncias, giravam justamente em torno do reconhecimento de que Ele era cada uma dessas coisas.
Peguemos, por exemplo, o relato da cura do paralítico em Carfanaum (Marcos 2:1-12). A história é bastante conhecida: quatro amigos levam o amigo paralítico para ser curado por Jesus, não conseguem entrar na casa, sobem no telhado, tiram algumas telhas e içam o doente para que seja curado. Ao ver o paralítico, Jesus diz: “Seus pecados estão perdoados”. A reação dos escribas é imediata justamente em torno disso, pois dizem: “Como ele se atreve a falar assim? Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados, a não ser um que é Deus?” Então, dizer que Jesus é Deus não é pouca coisa. Reconhecer Jesus como Senhor, por sua vez, também não é pouca coisa. Conforme Paulo diz em 1 Coríntios 12:3, ninguém pode dizer que Jesus Cristo é o Senhor senão pela ação do Espírito Santo.
A Bíblia chama Jesus de Deus, Senhor, Rei e Salvador. E aqueles que o reconhecem desta maneira pagam um alto preço para tanto. Já o título “meu amor” é um termo que a Bíblia nunca usa para Jesus. Considerando as repercussões de reconhecer Jesus como a Bíblia o faz, o mais certo seria dizer: “Te chamam de meu amor, mas eu me atrevo a chamá-lo de Deus, Senhor, Rei e Salvador”.
Numa época em que muitos tratam Jesus como um mero exemplo, romantizado e negam justamente a sua divindade, soberania, majestade e o fato de que Ele morreu pelo nossos pecados, o mais ousado é afirmar justamente esses pontos.
Yeshua, Yeshua
Tu és tão lindo
Que eu nem sei expressar
Yeshua, Tu és tão lindo
Confesso que não entendo a mania de se referir a Jesus como Yeshua. Ironicamente, o termo vem da raiz hebraica que significa “salvar” – mesmo que os autores não se contentem em chamá-lo de Salvador. Yeshua seria a forma original do nome de Jesus. Agora, existe algum valor em chamar Jesus pelo seu nome original? Não. Nem a Bíblia o faz nas suas diversas traduções.
Seguindo, essa ideia de uma beleza perante a qual ficamos sem palavras é até legítima. Deus de fato é descrito na Bíblia como formoso e belo. Sua beleza, porém, é qualificada. A Bíblia descreve sim a beleza de Deus. Ela fala da beleza da sua santidade (Sl 29:2), da beleza da sua glória e reinado (Is 4:2; Is 33:17) entre outras coisas. Então, se nós não sabemos expressar a beleza de Deus, por que não usar as próprias palavras de Deus para falar dela, conforme estão registradas na Bíblia?
Por fim, quando montamos a cena completa que essa música apresenta, temos uma relação que sugere um romance com Deus. “Meu amor, tão lindo és que não sei expressar”. Para muitos, essa romantização de Jesus vêm a partir da imagem de Cristo como o noivo que vem resgatar a sua noiva – que de fato é uma imagem bíblica. Mas, como já citamos aqui em outras análises, há um problema sério em estendermos uma imagem usada pela Bíblia para aplicações e ilustrações que vão além da Palavra. Não podemos pensar em Cristo como noivo com casamento e bodas e estender isso para uma noite de núpcias e sexo com Jesus.
No caso desta imagem, especificamente, isso é ainda mais prejudicial a partir de uma leitura alegórica de Cântico dos Cânticos. Muitos, especialmente na área do louvor, pegam as imagens de “sou do meu amado, e meu amado é meu” e transformam o relacionamento com Cristo numa relação romântica, beirando o erotismo.
Compreender Cântico dos Cânticos como uma alegoria entre Cristo e a sua igreja é errado, pois desconsidera alguns aspectos da literatura sapiencial. Temos que considerar este livro junto com os outros livros de sabedoria. Jó é a sabedoria de Deus para o sofrimento. Provérbios é a sabedoria de Deus para a vida. Salmos é a sabedoria de Deus para o louvor e a oração. E Cânticos é a sabedoria de Deus para a relação amorosa entre marido e mulher.
Tratar de Cânticos como uma descrição do amor entre Cristo e a igreja é confundir versões e palavras diferentes que se referem ao amor.
E se você ainda não está convencido de que Cânticos não é uma expressão do amor entre Cristo e a sua igreja, peço que você me instrua a respeito de como aplicar Cânticos 7:3 à vida com Deus (e não a uma esposa).
Resumindo, “Yeshua” propõe um padrão de relacionamento problemático com o Filho de Deus, nos levando a fazer pouco de como a Bíblia o trata em prol de um tratamento indecoroso e indevido.
Esta não é uma boa música para cristãos, nem para ouvir no dia a dia e muito menos para se cantar na igreja.
Fonte: https://canteasescrituras.com.br/yeshua-casa-worship-analise-da-musica/