Há exatos 23 anos, foi publicada a encíclica Fides et Ratio, do papa São João Paulo II, que trata das relações absolutamente compatíveis entre fé e razão na busca da verdade.
“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio”, eram as palavras de abertura da encíclica publicada em 14 de setembro de 1998, festa da Exaltação da Santa Cruz e vigésimo ano de pontificado de João Paulo II.
Na Fides et Ratio, são João Paulo II reconhece que “basta um simples olhar pela história antiga para ver com toda a clareza como surgiram simultaneamente, em diversas partes da terra animadas por culturas diferentes, as questões fundamentais que caracterizam o percurso da existência humana: Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Porque existe o mal? O que é que existirá depois desta vida?”.
E então, ele aponta que essas questões “têm a sua fonte comum naquela exigência de sentido que, desde sempre, urge no coração do homem” e que “da resposta a tais perguntas depende efectivamente a orientação que se imprime à existência”.
Em um artigo publicado em 2018, o arcebispo de Valencia (Espanha), cardeal Antonio Canizares, recordou que “esta encíclica sublinha que o amor à verdade, de uma verdade última em sua busca e em seu conhecimento, na defesa da verdade e em conhecer a mesma é onde radica o sentido da vida e, portanto, o futuro do homem e da sociedade “.
Sem referência à verdade última, ou seja, ao próprio Deus, João Paulo II afirmou na Fides et Ratio que cada um termina ficando “ao sabor do livre arbítrio, e a sua condição de pessoa acaba por ser avaliada com critérios pragmáticos baseados essencialmente sobre o dado experimental, na errada convicção de que tudo deve ser dominado pela técnica”.
“Foi assim que a razão, sob o peso de tanto saber, em vez de exprimir melhor a tensão para a verdade, curvou-se sobre si mesma, tornando-se incapaz, com o passar do tempo, de levantar o olhar para o alto e de ousar atingir a verdade do ser”, disse o cardeal em seu artigo.
Diante desta dificuldade apresentada pelo papa, o cardeal Cañizares termina sua coluna dizendo que “não devemos temer a razão e não devemos temer a fé”.
“Da relação inseparável entre ambas está a grandeza e a elevação da humanidade em direção aos seus níveis mais altos”, concluiu o arcebispo.