Somos chamados a viver o nosso profetismo, a não ter medo de anunciar a verdade om a palavra e com a vida. Bela é a nossa vocação, se vivida com intenso amor.
Em nenhum momento da história, Deus faz faltar ao povo o sustento do Seu amor. Ele vai suscitando sacerdotes santos, profetas corajosos, que fazem ouvir a própria voz para chamar os que se afastam de Deus.
O caminho do ser humano é sempre uma grande luta interior entre o bem e o mal. As coisas do mundo nos atraem e, se não temos cuidado, lentamente nos encontramos envolvidos em um emaranhado de um sincretismo religioso ou de autêntica idolatria, que nos enlouquece e nos faz perder o caminho da verdade e do bem.
O amor de Deus não nos falta e, mesmo em tempos de desnorteamento espiritual, o Senhor vai suscitando santos e profetas. Devemos redescobrir a alegria de escutá-Lo, pois nos chama pelo caminho difícil da santidade, do bem, e nos afasta dos caminhos fáceis do mal.
Mas quem são os profetas e como reconhecê-los?
Sem dúvida, a vocação do profeta, assim como a dos sacerdotes e dos religiosos e qualquer vocação que se preze, não é iniciativa do ser humano, mas de Deus. Ele nos chama e a nós dá a capacidade de responder e de sermos fiéis na fidelidade cotidiana.
Recordo que uma vez perguntei a uma pessoa que estava para se casar: “Você é consciente de sua vocação para o Matrimônio?” A resposta que me deu foi a seguinte: “Frei, é o jeito, não é? Fazer o que todos fazem: eu também vou me casar, mesmo que veja que este não é o meu caminho.” Aqui está o grande erro de muita gente hoje: pensar que a vida nos obriga a determinada situação, mesmo que não tenhamos vocação.
Isto pode acontecer no trabalho, em que somos obrigados, para sobreviver, a aceitar trabalhos que não gostaríamos de fazer, mas nunca deve acontecer com toda a nossa vida. Cada um de nós deve se perguntar: O que Deus quer de mim? Sabemos que, mediante o nosso Batismo, que é a inserção no mistério de Jesus, todos participamos da tríplice vocação do Cristo sacerdote, rei e profeta.
Estas três vocações devem ser desempenhadas na nossa vida em uma forma plena, segundo a nossa vocação. Às vezes, podemos pensar que a vocação sacerdotal só é destinada a quem é sacerdote, e não é assim. Todos somos sacerdotes, mesmo que não o sejamos no mesmo grau. Há o sacerdócio ministerial, reservado aos que recebem a consagração para tal ministério da Igreja, mas, no nosso sacerdócio comum, somos chamados a celebrar a nossa “missa” todos os dias, oferecendo a nossa vida como hóstia santa, imaculada e pura, como diz o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos, capítulo 12, dos versículos de 1 a 4.
Somos chamados a ser reis do universo, não para dominá-lo, ou pior, estragá-lo com o desejo da ganância, mas para conservá-lo, para cuidar do mundo, como diz o Papa Francisco, a casa comum de todos.
Somos chamados a viver o nosso profetismo, a não ter medo de anunciar a verdade om a palavra e com a vida. Bela é a nossa vocação, se vivida com intenso amor. Uma mente sem Deus e sem carne “Graças a Deus, ao longo da história da Igreja, ficou bem claro que aquilo que mede a perfeição das pessoas é o seu grau de caridade, e não a quantidade de dados e conhecimentos que possam acumular.
Os ‘gnósticos’, baralhados neste ponto, julgam os outros segundo conseguem, ou não, compreender a profundidade de certas doutrinas. Concebem uma mente sem encarnação, incapaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros, engessada numa enciclopédia de abstrações. Ao desencarnar o mistério, em última análise preferem ‘um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo’” (GE, 37).
Já demos uma definição de gnosticismo, que é buscar a Deus não pelo caminho do amor e da vida, mas somente pela inteligência e pelo estudo; achando que Deus se revela aos mais adiantados no conhecimento da filosofia ou das coisas espirituais. Podemos conhecer todos os livros dos místicos e dos não místicos e, ainda assim, ser um zero à esquerda no caminho da vida de experiência com Deus, na vidaespiritual.
Um Deus só ideia é desnecessário, é sem vida e sem amor. O nosso Deus é amor e se faz amor nos gestos concretos e nos chama a agir, abrindo o nosso coração às ações, às obras de caridade. Infelizmente, hoje esta maneira de pensar não está somente presente nas filosofias orientais, mas também no meio de nós. Devemos reagir com a nossa vida e lendo as biografias dos santos que souberam sempre unir a meditação e a vida prática, uma vez que oração e vida andam sempre juntas e nunca separadas.
Seduziste-me, Senhor, e me deixei seduzir
Sem dúvida, este texto do profeta Jeremias, texto pequeno e breve, tem uma densidade de conteúdo. “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” é um dos mais belos versículos, que nos abre o coração ao amor de Deus, que nos seduz, nos encanta e nos surpreende de uma maneira especial. Um Deus belo, amante e amado.
A história do profeta Jeremias é feita de dificuldades, de lutas, de perseguição por conta do seu amor pela justiça e pela Palavra de Deus. Nestes sofrimentos, o profeta gostaria de não falar, de fugir da sua responsabilidade, mas sabe que não pode, porque uma força o obriga a falar. Mas por que tudo isto? Porque se sente seduzido por Deus e se deixa seduzir. A vocação profética não depende de uma escolha nossa, mas, sim, da escolha de Deus, que nos chama quando quer e como quer. A nós nos resta apenas ser dóceis.
O Salmo 62/63 é a resposta à esta vocação da sedução de Deus: buscar o Senhor sempre, pois a nossa alma é como um deserto árido, que necessita da água viva, que vem de Deus.
A nossa missa cotidiana
Toda a vida do apóstolo Paulo é uma participação viva nas três realidades de Jesus sacerdote, rei e profeta; as quais ele vive com entusiasmo e com amor, sem dar importância às dificuldades que encontra, pois “quem me separará do amor de Cristo?” Paulo, com força, responde: “nada, porque eu pertenço a Cristo e Cristo me pertence”. Mas como podemos celebrar a nossa Eucaristia diária em que somos ao mesmo tempo sacerdotes e ofertas? Por meio da oferta do nosso corpo, para que seja agradável a Deus, posto que a santidade não é algo que acontece fora do nosso corpo, mas sim através dele.
Devemos purificar esta oferta, que muitas vezes é contaminada pelo pecado, pelo mal que está dentro e fora de nós. Não existe contradição entre oferta e vida, mas, sim, perfeita comunhão.
Mudar de pensamento
Jesus revela o Seu futuro: a Sua glória não será humana, a Sua grandeza não Lhe é dada pelos milagres que faz nem porque os demônios lhe obedecem, mas a Sua grandeza vem do fato de que Ele tem um único desejo: fazer sempre a vontade do Pai.
O caminho que Jesus apresenta para os que O querem seguir é a cruz. Esta palavra apavora os discípulos. Pedro tenta, com boa intenção, dissuadir Jesus de caminhar para a morte e fugir do sofrimento. Um conselho humano, mas que não pode ser aceito por quem segue Jesus. As palavras que Jesus diz a Pedro são terríveis: “vai embora, satanás”, palavras estas que ferem o coração de Pedro, mas que mais tarde ele mesmo compreenderá. O projeto de Jesus para nós é a cruz, que depois se transforma em glória.