A Sagrada Escrituras adverte previamente usando a palavra de Deus: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque o dia em que dela comeres terás de morrer” (Gn 2, 16-17). “Terás de morrer” não significa apenas: Morrereis, mas permanecereis sujeitos à corrupção e à morte.
De fato, ao nos referimos à ação do Senhor entre nós, necessariamente temos de falar também da origem do homem. Assim, ficarás ciente de ter sido nossa condição o motivo de sua descida, e de que a transgressão atraiu a filantropia do Verbo, de sorte que o Senhor veio e apareceu entre os homens.
O homem foi o motivo da encarnação, e por sua salvação, o Verbo amou o homem até nascer e manifestar-se com um corpo.
Por conseguinte, Deus criou o homem, e queria para ele a incorruptibilidade perdurável. Mas, os homens por negligência, abandonaram a contemplação de Deus, e começaram a imaginar a maldade. Por isso foi feita a sentença de morte de que tinham sido ameaçados, e daí em diante cessaram de substituir tais quais haviam sido feitos; corromperam-se em seus pensamentos e a morte o subjugou-os, reinando sobre eles. A transgressão do mandamento os reconduziu ao seu estado natural, e assim como havia passado do nada ao ser, era justo que daí em diante fossem sujeitos no decurso do tempo a corrupção, propensa a nada.
Os homens foram privados do ser, que seria eterno. Isto é o que significa, dissolvido o composto humano, permanecer na morte e na corrupção. Com efeito, por natureza o homem é mortal, pois foi feito do nada. Mas, se tivesse, pela contemplação de Deus, conservado a semelhança com aquele que é, teria diminuído a força da corrupção natural e se conservando incorruptível, conforme a sabedoria: “O respeito da leis é garantia de incorruptibilidade” (Sb 6, 18). E sendo incorruptível, teria no futuro vivido como Deus, segundo o indica certa passagem da Sagrada Escrituras: “Eu declare: ‘Vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo; contudo, morrereis como homem qualquer, caireis como qualquer dos príncipes’ ”(Sl 81, 6-7).
Ora, Deus não apenas nos tirou do nada, mas pela graça do Verbo, fez-nos viver segundo Deus. Os homens, contudo, se desviaram dos bens eternos, e por instigação do diabo voltaram-se para as coisas corruptíveis, tornando-se deste modo para si mesmo causa de morte. Mas pela graça da participação do Verbo, teriam escapado desta condição natural, se tivessem permanecido bons.
“Deus criou o homem para a incorruptibilidade e o fez imagem de sua própria eternidade; é por inveja do diabo que a morte entrou no mundo”(Sb 2, 23-24).