Um entre vários dilemas dos seres humanos é encontrar o “quem eu sou?” na verdade isso é mais um pretexto para que possamos nos lançar neste mundo e assim durante nossa trajetória preencher está lacuna e no final de tudo possamos fazer um balanço e descobrir que não ficamos no “negativo” ou melhor, que temos muito mais a agradecer do que se arrepender…
Acredito que a nossa maior busca é pela verdade. Aquilo que podemos nos lançar sem medo e com a certeza que vale a pena. A busca pela verdade é uma jornada que se inicia no âmago da alma humana, onde o eco do chamado divino ressoa incessantemente. São Tomás de Aquino, no ápice de sua sabedoria, nos guia para compreender a vocação como um convite sublime, emanado do próprio Deus, para seguirmos o caminho que Ele, em Sua infinita bondade, traçou para cada um de nós. Já podemos resumir toda a nossa busca e anseios neste grande mistério e intangível que chamamos de vocação.
A vocação, portanto, não é um mero capricho ou desejo terreno, mas a manifestação do plano divino, que se desdobra diante de nós como um mistério a ser desvendado. Ao nos depararmos com o chamado de Deus, somos convidados a responder com a totalidade de nosso ser.
Então podemos concluir que todos são chamados a uma vocação, mas, porque todos não atendem? Na verdade, ao mesmo tempo que Deus colocou em nós sua assinatura por sermos criados por Ele, este mundo “cria uma força” no sentido contrário para que resista a este chamado nos seduzindo com coisas, situações, paixões, e tudo aquilo que na maioria das vezes nos fazem perder tempo e quando menos imaginamos estaremos na terceira idade cheios de ressentimentos e arrependimentos. Como eu ouvi uma frase um tempo atrás que “o homem vive como se não fosse morrer e morre como não tivesse vivido” ou seja, vive de qualquer jeito, sem propósito e/ou valor, sem criar raízes e/ou família e se cria família não a leva para Deus, simplesmente como mero adorno na sociedade e quando este homem morre, percebe-se que não deixou nada nem se quer plantou uma árvore… É como se não tivesse vivido.
Na sociedade atual somos bombardeados com muitos prazeres, muitas experiências que nos desafiam e nos provocam e assim passando uma sensação de saciedade, muitas alternativas onde que na verdade perdemos tempo escolhendo ou não escolhemos nada ou escolhemos errado, o próprio Cristo nos alertou que o mundo tem muitos caminhos, mas, Cristo é o único caminho (ver Jo. 14,6ss).
Para ilustrar a situação descrita acima me recordo da história do estacionamento do shopping que diz: Quando estamos em nosso veículo e ao entrar no estacionamento nos deparamos com várias vagas e sendo assim vou procurando aquela que melhor me agrada colocando critérios como na sombra, próximo a porta de entrada, e da saída do estacionamento enfim vou balizando e assim garimpando naquele “vasto mar de vagas livres” mas, quando a situação é não tem vaga, aí a coisa muda de figura sendo assim, aquela que aparecer é nela que eu vou sem hesitar estacionar o veículo.
O que eu quero dizer é que a nossa única vaga que tem tudo que precisamos, inclusive, até aquilo que não sei se preciso é Jesus Cristo. Temos que tomar essa consciência de fé, está escolha decidida e sem hesitar. A fé é a chave que abre a porta da vocação.
A fé é a virtude pela qual a alma humana se adere a Deus, confiando Nele mesmo quando os caminhos parecem nebulosos e incertos. E é na fé que encontramos a força para perseverar, pois a determinação em continuar no caminho da fé não é uma simples obstinação, mas uma resposta amorosa ao chamado divino.
Devo acrescentar que a fé deve estar alicerçada com a nossa vontade, a escolha livre e descomprometida de recompensas ou algo para benefício próprio ou de outrem para que assim, como Deus nos criou livre, possamos oferecer está liberdade de bom grado.
Segundo o Doutor Angélico, é a virtude que fortalece a vontade, permitindo que nos mantenhamos firmes em meio às adversidades. No caminho da fé, enfrentamos tentações, dúvidas e provações que procuram nos desviar do propósito divino. Entretanto, é pela graça de Deus e pela prática da virtude da fortaleza que conseguimos superar esses obstáculos. O Catecismo quando diz que «as virtudes humanas são adquiridas pela educação», acrescenta: e «por atos deliberados» (n. 1810).
São Tomás, em sua obra monumental, enfatiza que a fortaleza não é apenas resistir às adversidades, mas também avançar corajosamente, confiando na providência divina.
A coragem não deve estar em um evento isolado e tampouco em salvar pessoas com uma capa e sim em uma radical busca diária, vigilantes e focados em não pecar isso sim é fortaleza.
Já percebemos que dentro de nós somos atraídos pela verdade que está por sua vez é saciada pela vocação e para isso devo me apoiar na fé que será abastecida pela prática das virtudes e assim impulsionando a nossa vontade, isso de uma forma resumida e bem direta. Se nossa vontade estiver desordenada todo o resto irá ruir. Poderemos entrar no time dos que não atenderam ao chamado de Deus.
A fé, fortalecida pela determinação, nos leva a uma compreensão mais profunda da nossa vocação. Somos chamados a viver não para nós mesmos, mas para Deus, buscando em todas as coisas a Sua glória. Essa busca não é fácil, mas é justamente nas dificuldades que nossa fé é purificada e nossa determinação é fortalecida. Assim como o ouro é provado pelo fogo, nossas almas são refinadas pelas provações do caminho da fé.
São Tomás nos exorta a nunca perdermos de vista o objetivo final da nossa vocação: a união com Deus (ser santo). É essa visão que nos motiva a seguir em frente, mesmo quando as forças parecem esgotadas. A cada passo, descobrimos que não caminhamos sozinhos; o próprio Cristo caminha conosco, sustentando-nos com Sua graça e nos dando seu Espírito paraclito dos qual detém e distribui como apraz todos os dons.
Quando nos lançamos na vida cristã disposto a seguir o evangelho ouvir a Cristo entendemos o nosso papel neste mundo e me aproximando ainda mais daquilo que Deus me fez para ser: Sede portanto perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito. (Mt.5,48). Eu te digo, paga o preço porque vale o quanto custa, com certeza a tua perca não será maior que tua entrega.
Portanto, ao refletirmos sobre a vocação e a determinação em continuar no caminho da fé, somos chamados a nos inspirar na sabedoria de São Tomás de Aquino. Ele nos ensina que a vocação é um presente divino que deve ser acolhido com gratidão e vivido com coragem. A determinação, por sua vez, é a resposta firme e amorosa ao chamado de Deus, uma resposta que exige a entrega total de si mesmo.
Que, ao meditar sobre essas verdades, possamos fortalecer nossa fé e renovar nossa determinação em seguir o caminho que Deus nos chamou a trilhar, confiando sempre na Sua providência e amor infinitos. Nesses momentos, é a determinação, guiada pela fé, que nos impulsiona a escolher o caminho da virtude e do amor a Deus, mesmo quando tudo ao redor parece conspirar contra essa escolha.
A determinação em seguir a vocação não é uma força cega ou teimosa, mas sim uma expressão da nossa confiança no plano divino. São Tomás nos recorda que a razão iluminada pela fé nos ajuda a discernir o que é verdadeiramente bom e digno de ser buscado. Assim, a determinação em continuar no caminho da fé se torna uma virtude racional, enraizada na certeza de que Deus é fiel às Suas promessas e que Ele jamais abandona aqueles que Nele confiam.
São Josemaria, que tanto nos ajuda a pensar na luta pelas virtudes, escreve: «Começar é de todos; perseverar, de santos» (Caminho, n. 983).
É natural que, ao longo desse caminho, surjam dúvidas e medos que fazem parte de nossa natureza humana, isso é normal nossa fragilidade faz parte da nossa condição. No entanto, não devemos esquecer que precisamente na nossa fraqueza que a graça de Deus se manifesta com mais poder. Quando nos sentimos incapazes de continuar, é a graça que nos levanta e nos fortalece, renovando em nós a determinação de seguir em frente.
Também devo destacar a oração, é uma arma poderosa nesse combate espiritual. Através dela, mantemos o coração aberto à ação de Deus e somos continuamente abastecidos pela Sua graça. A oração nos dá a clareza necessária para discernir a vontade de Deus e a força para cumpri-la, mesmo quando parece impossível aos olhos humanos. Em oração, unimos nossa vontade à vontade de Deus, e essa união é capaz de emanar uma fonte de perseverança.
Além disso, a caridade, a virtude que nos une a Deus e ao próximo, é fundamental para que a determinação se mantenha viva. A caridade é o motor da nossa caminhada, pois é o amor a Deus que nos faz desejar seguir Sua vontade acima de tudo. Quanto mais amamos a Deus, mais desejamos corresponder ao Seu amor, e é esse desejo que nos sustenta nos momentos de prova.
Portanto, a vocação e a determinação em continuar no caminho da fé são indissociáveis. A vocação é o chamado amoroso de Deus, e a determinação é a nossa resposta amorosa a esse chamado. Somos convidados a abraçar nossa vocação com coragem, alimentando nossa determinação com a fé e a oração.
Ao final que, possamos, ter a clareza de reconhecer que toda a nossa jornada de fé é uma preparação para a união definitiva com Deus, onde encontraremos a plenitude da alegria e da paz que buscamos. E que, ao longo desse caminho, nunca nos falte a força para perseverar e a confiança de que, em tudo, Deus está conosco, conduzindo-nos com Seu amor eterno.
Estar sempre disposto nem sempre é possível, mas, é possível querer sempre. Não terceirizar e/ou esperar pelo outro a minha missão é particular, atender o meu chamado me fará ser aquilo que Deus quis para mim quanto pessoa e assim, a minha missão cumprida junto com a missão cumprida do meu irmão serão ofertas agradáveis e completas a Deus.
Nós poderemos cada vez mais fazer a vontade de Deus clamando em oração pelo Espírito Santo e praticando as virtudes e assim nos aprofundando e crescendo. O mundo grita pelo testemunho dos filhos de Deus e onde eles estão? É tempo de acordar, mergulhar bem fundo e buscar aquilo que ninguém mais busca que é a verdade e está verdade é uma pessoa e chama Jesus Cristo o filho de Deus Aquele que tudo fez e criou, o Deus de nossos pais, Onisciente, Onipotente, Onipresente o único Supremo da humanidade.
Finalizo com as palavras de São Paulo: Que o Pai vos conceda, segundo as riquezas da sua glória, que sejais poderosamente fortalecidos pelo seu Espírito no homem interior, para que Cristo habite pela fé nos vossos corações, arraigados e fundados no amor (…), até atingir o estado do homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef 3,16-17 e 4,13).
Que possamos seguir estas palavras de São Paulo tão necessárias para os dias atuais e assim com esta certeza, não olhar para trás arrependidos de uma vida sem o Cristo e sim felizes e com a convicção que atendemos o nosso chamado e nossa vocação.
Missionário Edson Moreira – Comunidade Fidelidade